quarta-feira, 14 de julho de 2010

Crianças em situação de risco

Tenho que confessar: hoje quase chorei fazendo uma matéria.
Vi uma cena chocante e lamentável. No bairro do Guamá a polícia investigava uma casa, que supostamente, é um ponto de venda de drogas. O policial chama toda a imprensa, não pelas drogas, mas pelas situação em que vive a família. A mãe, uma senhora de aparência abatida, de quem já passou por muitas necessidades. Ela morava com três filhos em um quarto, mal iluminado, sem piso e com muitas tábuas faltando nas paredes. Aquilo foi o que sobrou para eles. Esse quarto é nos fundos do terreno. Na frente havia um resquissío do que uma dia foi uma casa. Ela desabou, era de tábua. Entre as madeiras havia colchões velhos, roupas, utensílios de cozinha, parecia que uma furacão tinha passado por ali. Fico imaginando as crianças brincando por ali, o risco que elas corriam no meio de toda aquela bagunça.
Estava chovendo, e a chuva só fez o cenário ficar mais triste.

As crianças tem entre três e cinco anos, e choravam incontrolavelmente. O conselho tutelar queria levar os três dali. Muita discussão, choro, gritos, e chuva... Então a mãe vira para mim, com o rosto molhado de lágrima e me pede para não deixar o conselheiro levar seus filhos.
Foi quando as minhas lágrimas vieram aos olhos. Engoli a seco. Como eu poderia intervir naquela história? E pior, como eu poderia pedir para não levar aquelas crianças dali, daquele lugar que cheirava mal e parecia que ia cair a qualquer momento?
Havia mais um quarto em cima, uma escada normal dessas de madeira que os pintores usam, era o acesso ao andar de cima. No chão de terra batida havia animais espalhados por todos os cantos, cachorros e gatos. Sem querer pisei na pata de um gatinho preto. tisc tisc...
Esta situação me chocou muito. Perguntei para a mãe o que ela fazia para sustentar a família, ela disse que era diarista. Perguntei se ela usava drogas, ela disse que não, que o ex-marido usou, mas ela não.
Falei com a filha mais velha, ela me disse que todos eram bem tratados ali, que não queria sair. Entendo que uma crianças daquela idade não sabe o que é bom ou ruim para ela, mas vi no rosto de cada uma ali o desespero de ser tirada de casa, se é que se pode chamar aquele lugar de casa.
Será que algum dia essa crianças tiveram um lugar decente para dormir, comer, tomar banho? Por que nem banheiro o lugar tinha!
Na semana em que se falou tanto no Estatuto da Criança e do Adolescente, pois ele completou 20 anos criação, a gente ainda se depara com crianças sem a mínima condição para viver. Mas o que me impressionou foi o quanto elas eram apegadas aquele mínimo. Mesmo sendo expostas a riscos e más influências. É porque com a mãe não foi encontrada nenhuma droga, mas uma amiga dela foi presa porque tinha cachimbos, usados para fumar craque.
Conversei com a policial que achou o tal cachimbo. Ela me disse que perguntou para a menina mais velha quem usava aquilo, e a menina imediatamente respondeu que aquilo não era da avó, porque a avó já tinha parado de fumar a bastante tempo. Uma menina de 5 anos sabia exatamente para que servia aquilo!!!!
Depois de muita negociação a mãe a avó aceitaram ir com o conselheiro tutelar. Antes de entrar no carro converso com a outra menina, que coincidentemente se chama Liliane. Mais uma vez quis chorar, ela olhou pra mim e disse que estava com medo. Tentei acalmá-la dizendo que seria melhor ela ir, que aqueles homens iriam cuidar dela e da família.
Meu Deus, quantas crianças passam por isso?!!!
Será mesmo que vão cuidar deles?
Será que já não deveriam ter cuidado, pra que a situação não chegasse naquele ponto?
Quantas famílias não vivem do mesmo jeito em Belém... no Brasil?
Pensei imediatamente no meu sobrinho ou sobrinha, que logo logo vem ai. Agradeci a Deus pela família que tenho, que ele/ela também vai ter. Agradeci pelo o que tenho, um teto, um emprego, o mínimo de dignidade. As vezes a gente não imagina que temos muito, quando muitas famílias não tem nada....

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